...Uma fábula além do tempo
F. Scott Fitzgerald (1896-1940), escreveu em 1922, a fabula sobre um sujeito "nascido em circunstâncias incomuns". (The Curious Case of Benjamin Button, 2008) conta a história de Benjamin, um homem que nasce velho, quase a beira da morte, sofrendo de todos os problemas de uma velhice terminal, mas que a cada minuto que se passa ele rejuvenesce um pouco mais, numa inversão mágica do ciclo da vida.
O inicio do longa, retrata o nascimento do bebê/velho, abandonado por seu pai nas escadarias de um asilo. Lá ele é acolhido como um dos velhos residentes, e criado como um filho pela mulher negra Quennie, dona do asilo. É fascinante ver o uso dos efeitos especiais, para criar um idoso e debilitado Brad Pitt. Pequeno, frágil e enrugado, leva-se um tempo para de acostumar com sua aparência. O primeiro ato é muito centrado e calmo, retratando a “adolescência” de Benjamin e suas primeiras experiências – a primeira mulher, o primeiro emprego, a primeira bebida e o seu primeiro amor.
Ainda no asilo, Benjamin conhece Daisy, a garota ruiva de olhos azuis, que visita sua avó quase todos finais de semana, a garota logo percebe que Benjamin não é um “senhor” comum, e logo criam enorme laço de afeto mútuo.
Roteiro de Eric Roth, o filme se assemelha muito a estrutura de narração de Forrest Gump, também escrito por Roth. O filme tem sua certa dosagem de humor, drama e aventura. Dirigido pela mão firme de David Fincher (Se7ven, Zodíaco), o filme em certo ponto atinge uma mobilidade, assim como Benjamin que aposenta suas muletas e parte numa jornada de autoconhecimento e exploração do mundo. A premissa do filme dá lugar a reflexão sobre a mortalidade, a busca do amor impossível e o mais interessante, a passagem do tempo.
Viajando de porto em porto em busca de novas descobertas e aventuras. Entre essas descobertas, está a personagem vívida por Tilda Swinton. Enigmática como sempre, ela é o primeiro beijo de Benjamin, sua primeira paixão adulta.
Cada vez mais jovem Benjamin reencontra a menina Daisy, agora vívida pela estonteante Cate Blanchett, se reencontram 20 anos depois – Ele 20 anos mais jovem, ela 20 anos mais velha. O casal, que por sinal é perfeito, passa por maus bocados até realmente ficarem juntos e viverem seu grande amor em meio às batidas do rock dos Beatles.
Ressalvas minhas vão para duas partes do filme – a primeira, logo no começo, que conta uma história na 1ª Guerra Mundial, de um pai que perde seu filho nos campos de batalha. O pai, um relojoeiro cego, constrói um relógio para ser posto na estação de trem de sua cidade. Na inauguração todos percebem que o relógio esta contando de trás pra frente, e assim o relojoeiro explica que fez isso de propósito na esperança de voltar o tempo e trazer seu filho e os filhos de muitos outros que foram perdidos na guerra.
E a segunda, na sucessão de eventos narrados por Benjamim que levam ao trágico acidente de Daisy.
Da primeira Guerra Mundial, até o furacão Katrina, as paisagens de Nova Orleans são o perfeito cenário romântico do filme, que conta com excepcionais cenas artisticamente poéticas, fotografia deslumbrante, uma trilha sonora belíssima, grande elenco de apoio, e uma ótima equipe técnica, fazem de O Curioso Caso de Benjamin Button a mais poética obra de Fincher, que o eleva aos status de um dos maiores diretores do cinema contemporâneo. Uma obra prima atemporal sobre um homem nascido em circunstancias incomuns.
22 de janeiro de 2009
18 de janeiro de 2009
O dia que em que a terra parou
Homens e suas estúpidas armas...
Indagado de ser um dos, se não o mais, inexpressivo ator do cinema atual norte americano, Keanu Reeves disse que não compartilhava da mesma idéia, por isso não podia responder ao jornalista.
Portanto Keanu é o único que não compartilha do mesmo pensamento, e no seu novo filme escolheu o papel perfeito para suas limitações artísticas.
Klaatu, seu personagem, é um alienígena que adquire a forma humana ao chegar à terra para dar um ultimato a toda raça humana – ou os humanos aprender a respeitar o planeta e as espécies que o habitam, ou a raça humana será dizimada da face da terra.
Se Reeves é perfeito para o inexpressivo alienígena, o restante do elenco deixa muito a desejar, esse é o caso de Jennifer Connely, que aqui vive uma cientista especializada em formatos de vidas extraterrestre, que por ventura acaba se tornado o centro da luta contra a extinção humana. Sua personagem acaba criando um vínculo com Klaatu, e por isso ela se torna no final a única esperança da humanidade.
A atriz parece perdida em cena, mal dirigida e aproveitada, se tornando uma personagem fria e rasa.
Podemos interpretar os personagens do filme como catalisadores das emoções e reações generalizadas da raça humana. Jaden Smith, enteado de Connely no filme, reage a Klaatu como qualquer humano apresentado ao desconhecido reagiria – com medo, desconfiança e cego pela ignorância. Sua opinião é de que todos devem ficar e lutar contra o desconhecido, sem abrir chance para o diálogo, mas a partir do momento em que ele é salvo por Klaatu, sua raiva e insegurança são substituídas pela tentativa de tirar proveito das habilidades extraterrestres de Klaatu.
A personagem de Connely funciona como uma provação de que o amor existe nas mais variadas formas possíveis - seu marido morre na guerra e por isso ela passa a criar o enteado com o mesmo amor de uma mãe biológica, provando que os humanos possuem essa habilidade incomparável de amar o próximo, de chorar e se emocionar.
Em minha opinião, a humanidade estaria condenada ao depender desses dois personagens.
Personagens a parte, o filme erra na temática abordada – a preservação do ecossistema, o assunto mais em voga da atualidade. E acaba caindo na mesmice de transpassar uma mensagem de conscientização ao espectador.
Mas acerta em tocar em outros assuntos, como a supremacia americana perante ao mundo, a violência armada dos poderes regentes, a insignificância do ser perante ao desconhecido e as reações e interpretações mundiais de pânico e destruição das populações.
Outra ressalva do filme é o robô alienígena Gort. Criado através de computação gráfica. Ele está maior, mais flexível e bem mais destrutível. Mas mesmo assim ele perde aquela enigmática aura de mistério e ameaça do original de 1950.
No restante o filme funciona, mas lógico sem ser comparado com o clássico de 1950. O remake perde a aura de suspense e mistério do filme original, pelo uso excessivo de efeitos especiais, estes que são um deleite visual, mas que acabam desviando a atenção necessária do filme, que atinge seu ápice em um grande paradoxo – Para salvar o planeta da raça humana é realmente necessário destruir tudo utilizando de uma nuvem de destruição? – Não seria mais fácil apenas introduzir um vírus mortal para a raça humana, ao invés de destruir toda a vida que habita o planeta. Creio que por ser uma raça altamente desenvolvida, que cruza o espaço em velocidades inconcebíveis e detêm tamanha tecnologia e poderes de cura, a forma como destruir a raça humana foi um tanto que estranha.
Dirigido por Scott Derrickson, roteiro de David Scarpa, baseado no original de Edmund H. North (1951), O dia em que a terra parou é um filme mediano, ilógico e de interpretações medianas, que se vale pelas cenas de ação e destruição, que cai no final no seguinte conceito de que – o amor constrói, o amor salva.
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