1 de outubro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira


Cegueira ou pura ignorância?

Co-produção entre Brasil, Canadá e Japão, o filme baseado na obra do ganhador do Nobel da Literatura José Saramago, dirigido pelo prestigiado Fernando Meirelles (Cidade de Deus), roteiro de Don Mckellar e com participação do próprio Saramago, pode ser definido como um filme realista e desafiador.

A trama gira em torno de uma epidemia inexplicável que atinge primeiramente um determinado grupo de pessoas interligadas, que são logo confinadas em um claustrofóbico espaço isolado.

A fotografia a cargo de César Charlone é de incrível soberba artística. Os 121 minutos de filme seguem no mesmo tom azulado, às vezes sem foco e em variações que levam ao extremo branco, transpassando “nitidamente” na tela a cegueira dos personagens.
Edição de Daniel Rezende (Tropa de Elite), o filme no início segue um tom frenético, às vezes jogando as cenas sem continuidade para o expectador, mas ao longo adotando um ritmo mais calmo, mas não menos intrigante.
Perfeitos enquadramentos, e muito bem dirigidas e estilizadas cenas externas, Meirelles dirige muito bem este controverso filme.

Mas, em minha opinião, um dos pontos mais fortes do filme fica a cargo de Julianne Moore em sua muito bem estruturada personagem, que literalmente conduz muito bem o filme.
Numa enclausurada sociedade, sua personagem é a única que pode ver e não demora muito para assumir o papel de imaculada “mãe” protetora, capaz de tudo quando se perde a humanidade em meio ao caos instaurado. Até o inexpressivo Mark Ruffallo está convincente no papel do oftalmologista.
O filme em certo ponto levanta as possíveis questões da inexplicável epidemia, mas é nas entrelinhas que encontramos a possível causa, mas lógico, cada um podendo interpretar da sua maneira.

A questão mais interessante é levantada - A cegueira causa o pânico, ou o pânico causa a cegueira?
Passada a tormenta dos personagens, o personagem de Danny Glover é o único contente com seu estado e prefere ficar assim, pela intimidade e ajuda mutua causada em seu pequeno bando sobrevivente.
Num final epifânico, com cenas antológicas de extrema interpretação pessoal, Fernando junta todos os elementos em um filme sujo, instigante, que causa extrema aflição e indignação em certas cenas.
Merecedor de inúmeros debates fica aqui minha opinião – Às vezes devemos fechar nossos olhos e realmente enxergar o mundo lá fora.



29 de setembro de 2008

Crítica de... Teatro – Miss Saigon

The American way of life...

Fato totalmente inédito, ontem eu fui ao teatro assistir minha primeira mega produção da Broadway. Como um virgem, estava animadíssimo e nervoso – afinal, era meu primeiro musical. Mas relatos à parte, concentrarei-me no que realmente importa nesse post: a minha primeira crítica de teatro.
Deixando de lado todos os sentimentos e emoções a mil por hora, tentarei aqui escrever minha opinião sobre o espetáculo assistido ontem.

O original inglês de Alain Boubil, que estreou em 1989 na Inglaterra, já rodou o mundo inteiro. A produção de Cameron Mackintosh, produtor da Broadway, foi trazida ao Brasil em 12 de Julho de 2007, e se consagrou um sucesso encenado no Teatro Abril.
A história parte da premissa de um amor impossível vivido em meio da brutal guerra do Vietnã. Kim (Lissah Martins) é uma jovem e sofrida vietnamita que conhece Chris (Nando Prado) um soldado americano e juntos vivem uma breve, porém intensa, paixão.

Analisando separadamente os elementos teatrais desse magnífico espetáculo, podemos ressaltar os magníficos cenários, telões, figurino e coreografias - tudo de um incrível primor e bom gosto.
Nesses aspectos, a produção com certeza não deixa a desejar a peça original, ou aos grandes espetáculos da Broadway.
As atuações e danças de todo elenco de apoio são muito bem desenvolvidas.
Na exibição em que fui, o personagem do engenheiro ficou a cargo do substituto Tiago Abravanel, simplesmente o melhor elemento da peça.
No inicio seu personagem se mostra colorido e cheio de vida, passando por uma fase de desespero e miséria, o personagem é motivado por um sonho apenas: viver o american way of life.
Encenando uma das melhores cenas da peça inteira, “The American Dream”, Tiago Abravanel simplesmente rouba a cena.

A história principal pode ser um pouco repetitiva e às vezes cansativa, vendo nosso herói e heroína cantando exacerbadamente seu repentino e eterno amor um pelo outro.
Desse amor nasce um fruto, e é nesse fruto que a história segue um rumo de esperança para a personagem principal, que tem seu trágico final shakesperiano.
O texto traduzido também pode se tornar maçante em algumas cenas, as piadas às vezes não funcionam, e as gírias simplesmente não encaixam corretamente.

Mas mínimos detalhes de lado, a peça funciona como uma forte crítica social à guerra do Vietnã e ao fato de milhares de vietnamitas serem deixadas para trás com seus filhos bastardos e reputações manchadas, todas em busca de um mesmo sonho, o sonho americano prometido no calor de paixões.

Miss Saigon faz uso de todos os elementos possíveis na medida correta para se firmar como um grande espetáculo. Pirotecnias, efeitos sonoros, trocas surpreendentes de cenário e a magnífica orquestra ao vivo, passam-nos a sensação de estar assistindo um muito bem produzido filme hollywoodiano.
Mas para os “não-entendidos” - leia-se gays e afins - a peça pode se tornar tediosa.

No meu sistema de avaliação e critério, Miss Saigon recebe 04 Putas e Viados!