22 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button

...Uma fábula além do tempo

F. Scott Fitzgerald (1896-1940), escreveu em 1922, a fabula sobre um sujeito "nascido em circunstâncias incomuns". (The Curious Case of Benjamin Button, 2008) conta a história de Benjamin, um homem que nasce velho, quase a beira da morte, sofrendo de todos os problemas de uma velhice terminal, mas que a cada minuto que se passa ele rejuvenesce um pouco mais, numa inversão mágica do ciclo da vida.

O inicio do longa, retrata o nascimento do bebê/velho, abandonado por seu pai nas escadarias de um asilo. Lá ele é acolhido como um dos velhos residentes, e criado como um filho pela mulher negra Quennie, dona do asilo. É fascinante ver o uso dos efeitos especiais, para criar um idoso e debilitado Brad Pitt. Pequeno, frágil e enrugado, leva-se um tempo para de acostumar com sua aparência. O primeiro ato é muito centrado e calmo, retratando a “adolescência” de Benjamin e suas primeiras experiências – a primeira mulher, o primeiro emprego, a primeira bebida e o seu primeiro amor.
Ainda no asilo, Benjamin conhece Daisy, a garota ruiva de olhos azuis, que visita sua avó quase todos finais de semana, a garota logo percebe que Benjamin não é um “senhor” comum, e logo criam enorme laço de afeto mútuo.

Roteiro de Eric Roth, o filme se assemelha muito a estrutura de narração de Forrest Gump, também escrito por Roth. O filme tem sua certa dosagem de humor, drama e aventura. Dirigido pela mão firme de David Fincher (Se7ven, Zodíaco), o filme em certo ponto atinge uma mobilidade, assim como Benjamin que aposenta suas muletas e parte numa jornada de autoconhecimento e exploração do mundo. A premissa do filme dá lugar a reflexão sobre a mortalidade, a busca do amor impossível e o mais interessante, a passagem do tempo.
Viajando de porto em porto em busca de novas descobertas e aventuras. Entre essas descobertas, está a personagem vívida por Tilda Swinton. Enigmática como sempre, ela é o primeiro beijo de Benjamin, sua primeira paixão adulta.
Cada vez mais jovem Benjamin reencontra a menina Daisy, agora vívida pela estonteante Cate Blanchett, se reencontram 20 anos depois – Ele 20 anos mais jovem, ela 20 anos mais velha. O casal, que por sinal é perfeito, passa por maus bocados até realmente ficarem juntos e viverem seu grande amor em meio às batidas do rock dos Beatles.

Ressalvas minhas vão para duas partes do filme – a primeira, logo no começo, que conta uma história na 1ª Guerra Mundial, de um pai que perde seu filho nos campos de batalha. O pai, um relojoeiro cego, constrói um relógio para ser posto na estação de trem de sua cidade. Na inauguração todos percebem que o relógio esta contando de trás pra frente, e assim o relojoeiro explica que fez isso de propósito na esperança de voltar o tempo e trazer seu filho e os filhos de muitos outros que foram perdidos na guerra.
E a segunda, na sucessão de eventos narrados por Benjamim que levam ao trágico acidente de Daisy.

Da primeira Guerra Mundial, até o furacão Katrina, as paisagens de Nova Orleans são o perfeito cenário romântico do filme, que conta com excepcionais cenas artisticamente poéticas, fotografia deslumbrante, uma trilha sonora belíssima, grande elenco de apoio, e uma ótima equipe técnica, fazem de O Curioso Caso de Benjamin Button a mais poética obra de Fincher, que o eleva aos status de um dos maiores diretores do cinema contemporâneo. Uma obra prima atemporal sobre um homem nascido em circunstancias incomuns.

18 de janeiro de 2009

O dia que em que a terra parou


Homens e suas estúpidas armas...

Indagado de ser um dos, se não o mais, inexpressivo ator do cinema atual norte americano, Keanu Reeves disse que não compartilhava da mesma idéia, por isso não podia responder ao jornalista.
Portanto Keanu é o único que não compartilha do mesmo pensamento, e no seu novo filme escolheu o papel perfeito para suas limitações artísticas.

Klaatu, seu personagem, é um alienígena que adquire a forma humana ao chegar à terra para dar um ultimato a toda raça humana – ou os humanos aprender a respeitar o planeta e as espécies que o habitam, ou a raça humana será dizimada da face da terra.

Se Reeves é perfeito para o inexpressivo alienígena, o restante do elenco deixa muito a desejar, esse é o caso de Jennifer Connely, que aqui vive uma cientista especializada em formatos de vidas extraterrestre, que por ventura acaba se tornado o centro da luta contra a extinção humana. Sua personagem acaba criando um vínculo com Klaatu, e por isso ela se torna no final a única esperança da humanidade.
A atriz parece perdida em cena, mal dirigida e aproveitada, se tornando uma personagem fria e rasa.
Podemos interpretar os personagens do filme como catalisadores das emoções e reações generalizadas da raça humana. Jaden Smith, enteado de Connely no filme, reage a Klaatu como qualquer humano apresentado ao desconhecido reagiria – com medo, desconfiança e cego pela ignorância. Sua opinião é de que todos devem ficar e lutar contra o desconhecido, sem abrir chance para o diálogo, mas a partir do momento em que ele é salvo por Klaatu, sua raiva e insegurança são substituídas pela tentativa de tirar proveito das habilidades extraterrestres de Klaatu.
A personagem de Connely funciona como uma provação de que o amor existe nas mais variadas formas possíveis - seu marido morre na guerra e por isso ela passa a criar o enteado com o mesmo amor de uma mãe biológica, provando que os humanos possuem essa habilidade incomparável de amar o próximo, de chorar e se emocionar.
Em minha opinião, a humanidade estaria condenada ao depender desses dois personagens.

Personagens a parte, o filme erra na temática abordada – a preservação do ecossistema, o assunto mais em voga da atualidade. E acaba caindo na mesmice de transpassar uma mensagem de conscientização ao espectador.
Mas acerta em tocar em outros assuntos, como a supremacia americana perante ao mundo, a violência armada dos poderes regentes, a insignificância do ser perante ao desconhecido e as reações e interpretações mundiais de pânico e destruição das populações.

Outra ressalva do filme é o robô alienígena Gort. Criado através de computação gráfica. Ele está maior, mais flexível e bem mais destrutível. Mas mesmo assim ele perde aquela enigmática aura de mistério e ameaça do original de 1950.
No restante o filme funciona, mas lógico sem ser comparado com o clássico de 1950. O remake perde a aura de suspense e mistério do filme original, pelo uso excessivo de efeitos especiais, estes que são um deleite visual, mas que acabam desviando a atenção necessária do filme, que atinge seu ápice em um grande paradoxo – Para salvar o planeta da raça humana é realmente necessário destruir tudo utilizando de uma nuvem de destruição? – Não seria mais fácil apenas introduzir um vírus mortal para a raça humana, ao invés de destruir toda a vida que habita o planeta. Creio que por ser uma raça altamente desenvolvida, que cruza o espaço em velocidades inconcebíveis e detêm tamanha tecnologia e poderes de cura, a forma como destruir a raça humana foi um tanto que estranha.

Dirigido por Scott Derrickson, roteiro de David Scarpa, baseado no original de Edmund H. North (1951), O dia em que a terra parou é um filme mediano, ilógico e de interpretações medianas, que se vale pelas cenas de ação e destruição, que cai no final no seguinte conceito de que – o amor constrói, o amor salva.