8 de outubro de 2008

Linha de Passe

Fé na vida, fé no futebol

Antes que as pessoas julguem o livro pela capa, ou nesse caso, o filme pelo nome, Linha de Passe não é somente um filme sobre futebol - lógico que é de grande importância para a trama -, também se baseia na realidade da vida de seus personagens.

Acompanhamos nesse filme a história de uma mãe e seus quatro filhos. Cleuza (vivida por Sandra Corveloni, premiada em Cannes), empregada doméstica, grávida do quinto filho. Dario, aspirante a jogador de futebol (Vinícius de Oliveira, o menino de Central do Brasil), que vive de peneira em peneira esperando sua oportunidade. Dinho trabalha como frentista (José Geraldo Rodrigues) e encontra no culto evangélico a salvação de seu passado obscuro. O mais velho, Denis (João Baldasserini), trabalha como motoboy e o caçula, Reginaldo (Kaique Jesus Santos), vive de ônibus em ônibus de São Paulo à procura de seu desconhecido pai.

Dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas, sentimos ao longo do filme a constante sensação de angústia e desespero dos personagens em suas vidas sem esperança na periferia de São Paulo.
Não economizando em close-ups, a fim de capturar momentos de significado, o filme se apóia muito nas emoções dos personagens. O longa toca profundamente em questões sociais, abordando tudo com o certo tom de realidade, mas sem julgar ninguém pelas escolhas erradas feitas ao longo do caminho.

Em constante movimento, seja em cima da moto de Denis, no futebol de Dario, ou no ônibus com Reginaldo, os personagens são abordados em rota de mudança; a mãe prestes a ter o quinto filho, a esperança na habilidade futebolística, a volta ao passado obscuro, mas sempre sendo impedidos pela estagnação social que os envolve.

Um filme acima de tudo sobre fé – fé na esperança de mudar, fé no futebol, fé cega na religião, fé no sonho de vencer.
Linha de Passe é um excelente e melancólico filme sobre a realidade de inúmeros rostos em meio à multidão.
Mais uma superação do cinema brasileiro, laureado em terras francesas, mas ainda infelizmente menosprezado pelo grande público.

3 comentários:

Anônimo disse...

Hoe hoe.
Puta número um por aqui...bem, eu já assisti alguns filmes cuja base se fixa em futebol. Odiei todos. Menos "ela é o cara", porque aquele Duke é uma delícia sem precedentes. Mas claro que sua crítica se direciona à estruturação, riqueza e complexidade das personagens, da fotografia, e cenas. Está de congratulaciones por levar em conta esses fatores, e não dizer coisas como "ai, é chato, não dá pra entender nada e...ãããã...é chato". Não vou dizer que quero ver esse filme porque realmente tenho trauma de filmes futebolísticos. Mas, se daqui um ano passar na tv (legendado, óbvio), eu vou assistir porque lembrarei que mr.cavalcanti gostou.

beijos, dau

Fábio Galdino disse...

Alguns comentários podem ser resumidos, simplesmente, a um puro Parabéns....
Dispensa, por uma razão lógica, qualquer tipo de comentário extra.
Mais uma vez: Parabéns....

Unknown disse...

Caio,
Logo na cena final de "Linha de passe", fiquei com a sensação de que uma trilha sonora cabia naquele exato instante: "Al otro lado del río" do Jorge Drexler (também música-tema do maravilhoso "Diários de motocicleta", do Salles).
Assista novamente e repare como a canção dá o tom certo ao enredo, ao clima, à aura dos personagens. Principalmente quando Dinho, depois de todos os percalços nas linhas de seu destino, caminha, só, dizendo: "anda, anda, anda", como querendo dizer a si mesmo, que a vida, apesar de tudo, deveria continuar...
E Jorge canta: "Oigo una voz que me llama casi un suspiro, rema, rema, rema-a".
Veja como tudo fica em consonância, em harmonia...

Um bjo