24 de outubro de 2008

Última Parada – 174


“... No final da história a maior vítima é você...”

Nessa interminável leva de cinema “favela” brasileiro, Bruno Barreto estréia nas telas a história que chocou todo o Brasil em 12 de junho de 2000 - a história de Sandro do Nascimento, que tomou reféns dentro de um ônibus da linha Central – Gávea, Rio de Janeiro.

Comparações são inevitáveis ao ótimo Linha de Passe, de Walter Salles. Comparações (estas por se tratarem de filmes com o mesmo teor narrativo) sobre histórias de uma classe marginalizada e suas lutas contra a estagnação social em que vivem, a ausência dos pais e caminhos errados ao longo da vida.
Diferente do genioso filme de Salles, comentado na outra crítica, Última Parada (representante Brasileiro em disputa numa vaga do Oscar 2009) é um filme de muitos erros, erros talvez cometidos por uma fraca direção de Barreto.

Todos os elementos necessários para a construção do personagem estão lá – Sobrevivente da Chacina da Candelária, o menino de rua, ajudado em tentativa falha de ONGs, que cresce marginalizado sem a esperança de um breve sonho, este que é logo destruído pelo analfabetismo e consumo de drogas.
Um arco narrativo brilhantemente construído, através de encontros e desencontros dos personagens tecido em meio ao cenário urbano do Rio. O roteiro fica a cargo do brilhante Bráulio Mantovani, que já tem em sua bagagem Cidade de Deus. Mantovani dá ao filme o tom coloquial e natural.

As interpretações medianas em certas cenas deixam a desejar. Por ser um filme que se apóia na dramaticidade de seus personagens, as cenas perdem o realismo cru necessário nesse tipo de filme “favela”, tornando-os meras caricaturas – o pastor, o marginal, a ex-viciada que encontra em Jesus a salvação, etc.
O longa não se define na abordagem dramática que quer transmitir ao espectador, às vezes a tentativa de dar um tom mais realista possível é vista, mas também pode ser notado um melodrama e um humor desnecessário em certas cenas que por fim destoa de todo o contexto.
A forte crítica social pode ser ouvida no filme. Todas ações que culminam no trágico incidente de “cotidiano” de um rapaz que só queria ser ouvido e que através do ônibus 174, ele se tornou, talvez, a maior vítima do falho sistema em que vivemos – um sistema onde a marginalização, a violência, uma polícia corrupta e a pobreza são vistos como trivialidades de um caótico cotidiano.

Em suma, o errôneo filme de Barreto, tem todos os elementos necessários para ser um grande filme, mas infelizmente isso não ocorre. O que mais o prejudica é o superior, em todos os sentidos, filme de Walter Salles, este sim que deveria representar com louvor a corrida pelo Oscar.

4 comentários:

Anônimo disse...

estava com vontade de assistir. agora passou. será que vale a pena a aventura, nem que seja pra identificar o que não se deve fazer num filme? rs

parabéns pela resenha amigo! esse blog é MARA!

Anônimo disse...

estou morrendo de ódio desses bichos voadores e estava prestes a me jogar da janela, mas antes vou comentar aqui.
quero ler mais sobre os filmes que você não gosta.
divertidíssimo.
ácido.
quero encontrar jesus agora, comofas//
excellent!

besos

Fábio Galdino disse...

Já não sou muito fã do cinema brasileiro, e por vezes, recuso-me a ver alguns filmes. Última parada, verei, se estiver em casa numa segunda-feira qualquer, em tela quente. Valeu por me fazer economizar R$16,00 no cinema.
Adorei a critica, muito racional.
Na minha opnião, a melhor que você já escreveu. Provando que a pratica leva a perfeição...

Parabéns...

Anônimo disse...

Então mano, esses filmes "favelas brasileira" ja me cansou a tempos. Acho que não precisaria ficar apenas falando sobre esse tema, parece que só existe isso pra se falar. Acho que se pegar qualqer "pião" e o acontecimento de crime e investigar, dá rpa fazer filme, a minha vida mesmo dá um filme, acho que é batido ficar falando sobre essas coisas.
não tenho muita vontade de assistir, mas nunca se sabe neh.. posso assistir sem querer muito qualqer dia..

abraço!